"Rui Patrício é ágil, estão bem servidos" by Béla Katzirz

Béla Katzirz foi o maior de todos os guardiães leoninos, com 1,97 m e 102 kg. Sem o impacto do seu compatriota e antecessor, Meszaros, em três épocas pelo Sporting - de 1983 a 1986 -, marcou pela fisionomia. Hoje advogado, o magiar disse a O JOGO que já conhece Patrício, o jovem que segura pontos - e na Liga já são 12.

É o guarda-redes mais alto e mais pesado que passou pelo Sporting, sabia?

É engraçado. Gostei do tempo que passei no clube, foi inesquecível, e adorava voltar a Portugal. Diziam que eu tinha dois metros e nem precisava de saltar para bater com as mãos na barra, mas agora encolhi para 1,94 metros. Com a idade, meço menos [risos].

Acompanha o Sporting?

Sempre que posso. Vi na televisão o jogo na Polónia. Estavam motivados, mas jogar naquele clima é difícil. Que se aproximem de FC Porto e Benfica, pois quero o Sporting campeão.

Que memórias guarda? Foi difícil render Meszaros...

O grande Meszaros! Fui suplente dele na seleção no Mundial'1982. As coisas no Sporting não correram como esperávamos, mas fiz bons jogos, um nas Antas e outro com o Benfica, por exemplo.

Reparou em Rui Patrício contra o Légia?

Claro. Como estou desligado, fiquei a saber que é titular do Sporting e de Portugal. É ágil, tem personalidade. É bom saber que o Sporting continua bem servido. Parece-me um jovem com futuro, de nível europeu.

O seu Sporting era forte, mas falhou. Porquê?

Tínhamos jogadores como Gabriel, Virgílio, Venâncio, Carlos Xavier, Damas, Manuel Fernandes, Futre... Era mais próximo de Venâncio e fui ao seu casamento. Havia qualidade, mas os outros foram melhores.

Começou titular, mas depois deu-se o regresso de Damas, em 1984/85, e saiu...

Queria ficar, mas tinha 33 anos anos e alguns problemas físicos. Voltei à Hungria e um ano depois fui para a advocacia.

"Damas era um herói"

Conviveu durante um ano com Vítor Damas, uma das maiores referências da baliza do Sporting. Eram próximos?

Ah, Damas... Soube da sua morte. Fiquei destroçado! Ele era um herói do Sporting e foi, para mim, um grande amigo, muito mais que um colega ou um concorrente. Partiu novo de mais, mas a vida é mesmo assim. Tem uma baliza com o seu nome? Ora aí está uma justa e bonita homenagem.

"Futre dava cabo de nós"

Futre é hoje das personalidades mais populares em Portugal, com uma fama que vai além do futebol. Lembra-se dele? Ajudou a lançá-lo...

Sim, muito bem. O nosso treinador era Venglos, e apanhei a primeira época de Futre na equipa principal. Ele era um terror; já nos treinos era uma fera e ia para cima de qualquer um sem problemas.

"Ser advogado dá-me outra responsabilidade"

Dirige um escritório de advocacia. O direito foi uma paixão que lhe nasceu antes ou depois de fazer carreira como futebolista?

Antes. Por um lado, é pena, porque já nem tenho tempo para futebol. Quando fui jogar para o Sporting, só me faltava um ano para terminar o curso de Direito. Quando voltei à Hungria, acabei de me formar, encerrei a carreira de jogador e abri a minha firma de advocacia. É uma profissão que me tira todo o tempo; nem para falar com os meus antigos companheiros encontro tempo.

A última notícia que tive tua foi que te dedicaste à advocacia. É mais difícil do que era ser guarda-redes?

Foste um grande amigo para mim! Olha, ser advogado é uma responsabilidade muito diferente. São duas ocupações difíceis. Comecei no futebol para me divertir e depois tornou-se uma coisa séria. Ser advogado é uma profissão de enorme peso. Tira-me espaço para outras coisas, mas também me dá prazer. Sempre vou acompanhando a carreira do meu filho [David Katzirz]. Ele é jogador de seleção em andebol e tem feito uma carreira muito boa. Nunca o tentei convencer a ser guarda-redes; a paixão dele sempre foi o andebol.